quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pequeno, Grande Otelo

Negro e mirradinho, o que lhe faltava em estatura, sobrava-lhe em talento.  Esse mineirinho nasceu Sebastião Bernardes de Souza Prata, mas foi como Grande Otelo que ficou conhecido no Brasil e no mundo.
A vida não foi fácil para Sebastião. Seu pai morreu esfaqueado e a mãe era alcoólatra. Descobriu a vocação aos oito anos de idade quando assistiu ao filme O Garoto, de Charles Chaplin, e ficou fascinado com a atuação do menino Jacques Cougan.
Menino ainda fugiu de casa para acompanhar uma companhia de teatro mambembe. Mas ele era inquieto demais, fugiu novamente e acabou indo para o Juizado de Menores.
Teve sorte. Foi adotado pela família do político Antonio de Queiroz. A mulher de Queiroz, Dona Eugênia, tinha ido ao Juizado para conseguir uma ajudante na cozinha, mas em vez da cozinheira acabou levando para casa o menino que sabia declamar, dançar e fazer graça.
Na década de 30, entrou para a Companhia Jardel Jércolis, do pai do saudoso Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista. Ganhou o apelido de pequeno Otelo, mas preferiu "The Great Otelo". Traduzindo para o português virou Grande Otelo.
Mas a tragédia viria mais uma vez bater na sua porta. Na década de 40, já casado, sua mulher se matou após envenenar o próprio filho, de seis anos.
Do teatro de revista para as chanchadas foi um pulo. Formou com Oscarito uma das duplas mais engraçadas do cinema brasileiro. Mas se você pensa que ele era apenas um ator que se dava bem na comédia, saiba que sua filmoteca traz trabalhos de alto nível dramático como "Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia" e 'Rio, Zona Norte".
Mas com certeza o personagem mais verdadeiro que ele interpretou tenha sido Macunaíma, do filme homônimo, da obra de Mário de Andrade. A cena do seu nascimento é incrível e mostra todo o potencial do pequeno Grande Otelo.
O grande cineasta americano Orson Welles o considerava o maior ator brasileiro e juntos fizeram um filme em 1942, It's All True. Fez outros filmes internacionais como "Fitzcarraldo" (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva do Peru, Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar espanhol. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público.
Além de ator, cantor e compositor, também incursionou pelo mundo das Letras. Escrevia poesias e publicou o livro “Bom dia, manhã’.
Dizem que ele fugia de homenagens, talvez por causa da emoção. Ironicamente ao viajar para Paris onde receberia uma homenagem no Festival de Nantes, teve um enfarte ao desembarcar. Seu velho coração, já abalado por três enfartes, não aguentou tanta emoção.
Morria ali um ícone do cinema brasileiro. O pequeno Sebastião deixava a vida para representar lá no andar de cima entre anjos no teatro celestial.

Malu Pedarcini

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