sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A divina Elza

“Cantar ainda é o meu maior sedativo. Sem a música eu sou nada. Sem o palco, sou ninguém.”

Ela esconde a idade a sete chaves, mas dizem que tem 72. Mulher, negra e forte, já passou poucas e boas na vida e sempre emergiu vitoriosa. Nascida e criada na favela, com apenas 13 anos já era casada e mãe. Magrinha, com pouco mais de 33 quilos, subia o morro com a lata d’água na cabeça e palavras dela: “Quem me ensinou a cantar daquele jeito foi a lata d'água, que eu era obrigada a carregar para cima e para baixo do morro. Toda vez que eu pegava a lata e colocava em cima da cabeça, soltava um gemido daqueles que dou até hoje”.
Com o filho doente e frente às dificuldades resolveu tentar a sorte em um programa de calouros. Para enganar a idade, usou as roupas da mãe, mas como eram largas para seu corpo de criança, fez uma improvisação com alfinetes. O apresentador era o compositor Ary Barroso que ao vê-la toda mal ajambrada naquela roupa estranha perguntou “De que planeta você veio, minha filha?” A plateia, sim naquele tempo os programas eram ao vivo e com plateia, caiu na risada, mas ela não perdeu a pose e respondeu seca: “Do planeta fome, seu Ary”.
Cantou “Lama” e colocou toda a emoção, o sentimento de humilhação que tinha sofrido e soltou o vozeirão. Ganhou a nota máxima. Ary Barroso se assustou e a abraçou dizendo “Senhoras e senhores, nesse exato momento acaba de nascer uma estrela.”
Ela, no entanto, só chorava, pensando na humilhação que tinha passado por ser negra, por ser mulher, por ser pobre, por estar mal vestida. Mais tarde disse em uma entrevista que nem sabia direito porque tinha chorado. “Não sei se era emoção, se era raiva. Eu estava sendo humilhada, mas, na minha inocência, não conseguia entender isso. Só depois vim a compreender a razão daquele choro”.
Depois disso seu talento começou a ser reconhecido, porém como sempre, nem tudo foram flores para essa mulher de fibra.  Durante a ditadura tomaram tudo dela. Perdeu a casa e foi expulsa do País. Para não deixar a menor dúvida metralharam a casa toda. Diz que nunca foi ligada em política e, portanto nem faz ideia porque os militares fizeram aquilo. Desconfia apenas que foi porque fez um show com Geraldo Vandré, que era malvisto pelos milicos. Foi embora para a Itália deixando os filhos para trás. Diz com certa tristeza que tem um filho doente até hoje por cauda disso.
Foi casada com Garrincha por 15 anos e da união teve um único filho, Manuel Garrincha dos Santos Junior (morto aos 9 anos de idade num acidente automobilístico).
Já caiu no palco, fraturou duas vértebras e diz que sente dores até hoje, mas não se entrega não.“Sou a própria Fênix, sempre renascendo das cinzas. Por isso a tatuagem que fiz na perna.”
Em 2000, juntamente com a cantora Tina Turner, foi considerada a cantora do milênio pela BBC.
Apesar das tragédias e dos percalços, diz adorar a vida e a si mesma e que quando fazemos o bem para nós mesmos, estamos fazendo o bem para outras pessoas, por isso o conselho que sempre dá para as pessoas: “Viva”, somente viva!

Malu Pedarcini

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