sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Turbulência

Nosso guia em Puno foi o Dante, um rapaz esforçado e trabalhador, mas que vivia com muita dificuldade. Contou-nos que o seu maior sonho era comprar um fusca, mas isso era praticamente impossível com o que ele ganhava e tinha mulher e filhos para sustentar. Resolvemos que quando fossemos embora de Puno daríamos uma bela gorjeta para ele. E assim fizemos, arrecadamos o que nos restava da moeda local e demos para o Dante para recompensar a atenção e carinho com que nos tinha tratado.
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Sandra, Ivani, eu, Dante (nosso guia em Puno) e João - setembro de 1988.

Íamos pegar um voo para Arequipa que saia da cidadezinha de Juliaca. Demos adeus a Puno já com saudades, pois passamos dias maravilhosos por lá. Fomos para o aeroporto logo cedo, pois nosso voo estava marcado para as 11h30. Chegamos, fizemos o check-in e ficamos esperando a hora do embarque. O aeroporto de Juliaca mais parece uma rodoviária do interiorzão do Brasil. Chegou à hora de embarcarmos e nada. Esperamos mais um tempão e começamos a sentir fome. Fomos até a lanchonete e surpresos constatamos que não tínhamos dinheiro peruano para pagar o lanche. Quisemos pagar em dólar, porém não aceitaram, pois não faziam câmbio. E agora? Estávamos numa sinuca de bico. Pensamos em esperar mais um pouco e aí almoçaríamos no avião.

Sobrevoando os Andes

As 14h30 a aeronave aterrissou e logo a seguir um cortejo atravessou o aeroporto rumo ao avião carregando um caixão. Quase tive um treco, estava embarcando no nosso avião. A Ivani para me tranquilizar disse que aquilo era bom, pois o morto nos protegeria. Mal sabia ela o que iríamos enfrentar dali a pouco.
E finalmente embarcamos já quase às 15h e mortos de fome. Estávamos aguardando ansiosamente a refeição e eis que a comissária de bordo aparece com uma bandejinha com duas balinhas. Eu peguei uma e a Joceli outra, os demais ficaram sem. Também o que se esperar de um voo da Aeroperu naquele fim de mundo. De repente o avião começou a sacolejar feito um louco. Estávamos sobrevoando os Andes debaixo da maior tempestade. Achei que era o fim da linha. Fiquei até imaginando se caíssemos e alguém sobrevivesse quem comeria quem, lembrando o acidente acontecido anos antes onde os sobreviventes se alimentaram dos que tinham morrido. A Ivani que nunca foi religiosa me segurou pela mão e começou a rezar um Padre Nosso. Depois de alguns minutos de medo conseguimos sair da zona crítica e o voo transcorreu tranquilo até o destino. A fome até passou depois do susto.

Malu Pedarcini

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