segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Araci, a heroína brasileira

O nome de João Guimarães Rosa é conhecido de norte a sul do Brasil. Um dos maiores escritores do país, seus personagens são inesquecíveis. Mas e de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, alguém já ouviu falar?
Para quem não sabe, Araci foi o grande amor e a grande companheira do escritor. Dizem que o personagem “Diadorim” do livro “Grande Sertão, Veredas” foi inspirado nela.
Ela nasceu em Rio Negro no Paraná e desde cedo sua beleza e bondade sobressaíram.
Casou-se cedo, porém o casamento não deu certo e foi viver com uma tia na Alemanha, já que mulheres separadas não eram bem vistas por aqui. Foi trabalhar no consulado brasileiro, na seção de vistos, e lá conheceu Guimarães Rosa, também separado, que era diplomata. Em plena Segunda Guerra, esta mulher corajosa se arriscou para salvar vidas. No ano de 1938, tinha entrado em vigor, no Brasil, a célebre circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Araci nem deu bola para a tal circular.
Como ela despachava com o cônsul, dava um jeito de misturar junto com os demais papeis, os vistos para os judeus. Desta forma, ela conseguiu salvar centenas de pessoas. O marido, nunca colaborou com isso, mas a apoiava completamente.
Seu coração generoso foi mais além. Na época, a Alemanha vivia um racionamento de comida e, os judeus recebiam uma quantidade menor de alimentos. Aracy passou a alimentá-los com a cota extra que recebia no Consulado. Ia de casa em casa distribuindo comida. Dizem que Guimarães Rosa a acompanhava nessas distribuições, mesmo morrendo de medo pelo que poderia acontecer com sua mulher.
Anos mais tarde, em 1968, Araci pode demonstrar de novo sua coragem ao abrigar no seu apartamento artistas perseguidos pela ditadura militar.
Aracy é a única mulher brasileira que tem o nome no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Lá, há uma árvore plantada em sua homenagem no chamado Jardim dos Justos, onde são citados outros protetores famosos, como Oskar Schindler.
Ela viveu com Guimarães Rosa, por 30 anos, até 1967, quando ele faleceu e hoje essa mulher admirável, que fez cem anos em 2008, infelizmente não se lembra de mais nada, pois o Mal de Alzheimer destruiu sua memória.

Malu Pedarcini

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