quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Diário de um Cucaracha

Henrique de Sousa Filho, mais conhecido como Henfil, não foi apenas um cartunista. Ele escrevia e muito bem. Um de seus livros “Diário de um cucaracha”, publicado em 1976, relata de uma forma mordaz o choque cultural, o preconceito e as dificuldades que enfrentou, quando em 1973 foi para os Estados Unidos em busca de tratamento para a hemofilia e também para fugir da repressão da ditadura militar. O nome do livro (cucaracha) é uma alusão aos latinos, que segundo os americanos procriam feito baratas.
E o preconceito não vinha apenas dos brancos. Em uma frase do livro Henfil mostra o quão podem ser preconceituosos brancos e negros. Ao relatar como funciona o transporte coletivo naquele país ele diz: “os negros têm o maior desprezo por esses brancos encardidos e sentam-se sempre no fundo. Os brancos sempre sentam na frente e os latinos. Ah, estes tem que se contentar em ir no meio, onde estão as rodas do ônibus.”
Dá para imaginar o que ele passou em um país que se acha superior a todos os outros e ainda por cima sem falar uma única palavra em inglês.
Um dos trechos mais interessantes do livro diz assim:
“Apesar de ser homem como qualquer americano, na realidade não sou. Sou um intruso, um penetra, um estrangeiro, um alien, pior: sou latino. Tenho olhos, ouvidos, pernas e braços como os americanos, mas, na loteria da vida, nasci no Brasil. Meu passe como gente só tem validade num espaço determinado chamado Brasil”.
Alternando melancolia e humor, Henfil deixa o leitor a vontade, fazendo com que ele sinta como se fosse um velho conhecido seu. Um livro agradável de ler e que eu recomendo.

Malu Pedarcini

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