domingo, 3 de outubro de 2010

Ney, o andrógino

Saiu de casa com apenas 17 anos. O pai, um militar conservador, não aceitava o seu jeito de ser e depois de uma briga feia, com direito a “porradas” e até lance com um revólver, ele ganhou o mundo. Para não morrer de fome se alistou na Aeronáutica e diz dessa época que era muito calado, na dele e por isso teve que brigar muito, delimitar o seu espaço. Foi hippie, artesão e vivia de vender o seu artesanato no bairro de Santa Tereza, no Rio. De lá para o teatro foi um pulo e depois de trabalhar em algumas peças, fez um trabalho com Regina Duarte. Suas participações sempre envolviam a dança e cada vez mais ele foi se especializando e isso lhe foi de grande valia mais tarde, quando se embrenhou no mundo da música.  Diz que achava que sua voz tinha algum defeito e quase morreu de vergonha quando um maestro parou o ensaio e disse que aquilo que ele fazia era uma coisa rara, que não-sei-onde castravam as crianças para manter aquele timbre.
E o que o incomodava passou a ser o seu maior bem.  E de repente lá pelo início dos anos 70 em uma apresentação no “Fantástico”, aquela figura andrógina, todo maquiado e com roupas estranhas sobressaiu naquele grupo, que tinha mais dois. Os Secos e Molhados estouraram. Da mesma forma que ganharam elogios, foram severamente atacados pela crítica. O Jornal do Brasil, inclusive, nunca fazia citação a sua pessoa, pois achava que ele era um travesti e o jornal não comentava sobre travestis, segundo ele.
Diz que o primeiro a escrachar e mostrar tudo foi o Chacrinha, que fez a maior esbórnia no seu programa. Em 1973, 1974, a banda foi para o México. Diz que lá uns empresários norte-americanos o procuraram, dizendo que a imagem da banda era muito boa, mas que era preciso um som mais pesado, mais rock. Queriam levá-lo para integrar uma nova banda. Recusou na hora, dizendo “Vocês estão loucos?! Estou começando uma carreira no Brasil. Não quero acabar como a Carmen Miranda!”
Meses depois surgiu o Kiss, que copiou muito do figurino e da forma de se apresentar do grupo brasileiro.
Os Secos e Molhados duraram pouco e, talentoso como ele só, partiu para a carreira solo, onde acumula mais e mais sucessos. Realmente, uma voz diferente, como disse aquele maestro um dia. Uma joia rara da MPB.

Malu Pedarcini

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